Deuses Americanos, Neil Gaiman

Eu não sabia o que esperar deste livro, estava na minha lista há muito tempo por causa do autor, mas eu não tinha a mais remota idéia do que se tratava. Eu só esperava muito.

Shadow é o nosso herói, e no sentido mais literal possível. Um homem simples, grandalhão, muitas vezes estúpido e algumas vezes surpreendentemente sábio. É um ex-presidiário, contratado por Wednesday como guarda-costas após um episódio trágico em sua vida, que lhe fez perder o chão e a vontade de viver. Wednesday por sua vez é uma figura obscura, especialista em trapaças e mentiras, que sai pelos Estados Unidos realizando visitas, e encontrando uma lista de figuras conhecidas por nós, como por exemplo um Leprechaun irlandês (que simpatizei imediatamente). Enquanto é arrastado nessa viagem, Shadow mais faz apanhar e se meter em encrencas do que proteger Wednesday como devia.

deuses-americanos-3-edNo meio de um pré-guerra entre os novos e velhos deuses, Shadow, que ainda se considera um cara comum, vai seguindo o fluxo sem entender muito bem pra onde vai, acredito que de uma forma bem próxima ao leitor, que tenta, mas não consegue adivinhar os possíveis rumos.

Nos dois lados dessa guerra estão os deuses da antiguidade, que foram de alguma forma trazidos para a América, dentro de alguma oração ou crença fervorosa, de algum lugar onde eram adorados e a eles dedicados os maiores esforços e melhores sacrifícios. E os novos deuses, que conhecemos muito bem (pode parecer piada, e provavelmente é), como a televisão, internet, eletrônica, etc… Que são adorados hoje, e a quem dedicamos nosso bem mais precioso, o tempo.

Gaiman escreve de forma leve e clara, e no início de cada capítulo há um trecho de música, poema, citação ou ditado popular que se conecta diretamente com o texto que vem a seguir. Muitas vezes li e reli essa parte pra depois conferir a relação com o capítulo.

É um livro para reflexão em vários níveis, nem me atrevo a sugerir que você leia se baseando no que acabei de escrever. Leia pela criatividade do Gaiman, para valorizar todo o estudo e pesquisa que ele realizou para criar essa obra cheia de referencias fantásticas.

Antes de ler Deuses Americanos, eu sugiro que você leia Coisas Frágeis (que a Amanda vai fazer a resenha!), um livro de contos do autor que cativa e encanta, e não tem os pequenos pecados permitidos nas longas narrativas.

Licença para um pequeno desabafo: Todas as vezes que li Neil Gaiman, me maravilhei no início, e depois da metade do livro eu tenho a impressão de que ele esfria. Parece que ele cansou da história e quer dar logo um fim. É uma pena, por que gosto muito do estilo, e admiro toda a sua inventividade. Em uma parte de Deuses Americanos, quando Shadow está refugiado em uma cidadezinha, é possível imaginar o próprio Gaiman, sentado em uma cabana, tentando descobrir o que fazer com o que já escreveu, indeciso entre queimar e terminar.

Em tempo: Obrigada a quem ajudou a escolher o livro na enquete. Memórias de Uma Gueixa foi o vencedor, já estou lendo e adorando! Resenha em breve.