Como a indústria alimentícia nos fisgou

Vamos falar de comida: comida é uma coisa maravilhosa. Como você tem se alimentado?

Você pode acaso corda atrasado, troca de roupa, sai correndo para pegar o ônibus; pula o café da manhã, o trabalho é puxado, às vezes tem que almoçar rapidinho – ou, quando dá tempo, por que não comer alguma coisa bem gostosa? Tem trânsito pra ir embora, stress, faculdade até tarde, um lanchinho no meio, um congelado ao chegar em casa. Parece familiar?

A nossa vida corrida deu à indústria alimentícia o ingrediente que faltava na receita do sucesso: a conveniência.

É pensando em fornecer uma refeição rápida, barata e saborosa que as principais empresas de alimento do mundo têm expandido seu portfolio. O que dá liga a essa fórmula? Sal, Açúcar e Gordura.

Em 1999, os principais líderes da indústria alimentícia, da Coca-Cola à Nabisco, se encontraram para uma reunião secreta de emergência. A pauta - o que fazer diante da epidemia de obesidade das últimas décadas.
Em 1999, os principais líderes da indústria alimentícia, da Coca-Cola à Nabisco, se encontraram para uma reunião secreta de emergência. A pauta – o que fazer diante da epidemia de obesidade das últimas décadas.

É com esse título que o jornalista Michael Moss lança o livro-reportagem que renderia um Pullitzer, o prêmio norte-americano para trabalhos de excelência na área do jornalismo. Em suas páginas, Moss leva o leitor para dentro dos laboratórios, salas de reunião e departamentos de marketing para mostrar como os alimentos que estão nas prateleiras do supermercado são cuidadosamente projetados para enganar o paladar e a inteligência do consumidor.

No livro, o autor explica como “o hábito de comer além do necessário tornou-se um problema global. Na China, pela primeira vez, o número de pessoas acima do peso superou o das abaixo do peso. Na França, onde o índice de obesidade subiu de 8,5% para 14,5% desde 1997, a Nestlé vem obtendo grande sucesso na venda do programa de perda de peso Jenny Craig para os mesmos parisienses que antes zombavam da tendência americana de criar uma dieta-sensação após a outra.”

Isso me faz lembrar o velho boato (risos) de que as empresas desenvolvedoras de softwares antivírus são as mesmas que produzem os malwares. Nada melhor do que criar a doença antes de vender a vacina.

O sal, o açúcar e a gordura participam de uma dança na composição dos alimentos. Sempre que a sociedade transforma um dos pilares no vilão, a solução é simples: trocar o componente problemático por outro que não esteja na lista de apreensões do momento. Assim, o suco light (sem açúcar) é repleto de sódio, as comidas com “baixo teor de sódio”, normalmente tem altos índices de gordura, e por aí vai.

Aliado à diminuição dos níveis de atividade física, o ambiente moderno é um potente estímulo para a obesidade, o que faz com que ela seja a doença da civilização.

A nossa cultura voltou-se contra as campanhas publicitárias de cigarro dirigidas às crianças, mas não fazemos nada enquanto as empresas alimentícias fazem exatamente a mesma coisa. E poderíamos afirmar que os danos à saúde pública causados por uma dieta pobre são comparáveis aos causados pelo tabaco, defende Kelly Brownell, professora de psicologia e saúde pública da Universidade de Yale.

Mas o sal, o açúcar e a gordura estão tão enraizados nos processos da indústria alimentícia que é difícil imaginar um caminho de volta. Eu não acho que existe uma solução padrão para salvar o mundo desse comportamento. E, para uma pessoa como eu, que tem o chocolate como base da pirâmide alimentar, é bem complicado abandonar velhos hábitos.

Embora pareça assustador (e destruidor de vidas), eu achei o livro excelente! Moss tira as vendas que as grandes indústrias colocaram em nossos olhos, para que possamos fazer escolhas mais conscientes.

Agora, quando vou ao supermercado, eu sempre olho o rótulo dos alimentos (aloka!). A regra de ouro: se você não conhece os quatro primeiros ingredientes, não compre. Outro item bacana pra ficar de olho é o sódio. Outro dia fui comprar esses pães sírios Rap10 da vida. A opção industrializada tinha mais que o dobro de sódio em sua composição. Escolhi a caseira.

Não adianta ficar bolado, o importante é buscar o equilíbrio. O chocolatinho depois do almoço pode ficar, a bolacha Oreo, até mesmo o sucrilhos, desde que você compense tudo isso nas refeições.


SELO SITE
Título Original: Salt Sugar Fat – How the Food Giants Hooked Us
Editora: Intrínseca
Tradução: Gottlieb, Andrea
Número de Páginas: 512