Amanda Palmer, os novos famosos e o papel do artista

Amanda Palmer era um nome que eu conhecia do twitter, mais especificamente, da conta do Neil Gaiman, pelo conteúdo, tinha sacado que era esposa dele, mas não sabia quem realmente era @amandapalmer até vê-la peladona nesse vídeo, onde ela genialmente responde a um comentário de um jornal, que cometeu o erro de dar mais importância ao seu seio escapulindo pela blusa ao invés de falar de sua música e da apresentação em questão.

Eu espero você assistir, vale a pena ;)

Já podia parar de falar dessa mulher por aqui, mas ainda tem mais.

Há alguns dias descobri a palestra que Amanda deu no TED, onde ela conta sobre seu trabalho de estátua viva logo após a faculdade e o que essa fase lhe ensinou. O que ela propõe em sua palestra dissertando sobre a “arte de pedir” é direcionada à indústria musical, mas me fez refletir bastante sobre o quanto se aplica a qualquer tipo de trabalho de arte e criatividade.

Mas já já volto a falar disso.

Hoje todo mundo quer ser celebridade, por que esse é o caminho mais fácil, não é necessário produzir alguma coisa para ficar conhecido. A internet se tornou um palco onde você não sabe para onde olhar. Pessoas cometem erros, expressam opiniões controversas, publicam fotos particulares por engano e viram notícia da noite para o dia de um segundo para o outro e desaparecem, também com a mesma velocidade.

Os famosos que duram um pouco mais na internet, não podem mais ser bons apenas naquilo que os deixou famosos. Além de atuar, escrever bem, fazer um vídeo engraçado, pintar uma obra de arte ou decorar cupcakes, é preciso fazer isso extremamente bem vestido, depois de tomar um café da manhã balanceado e brincar com o animal de estimação (que deverá ter seu próprio fã-clube), tudo isso devidamente postado no instagram, com um filtro escolhido a dedo e uma legenda despretensiosa. Por que a vida deve ser naturalmente glamourosa.

Estou falando sobre internet, pois é o meio de comunicação em que eu e grande parte das pessoas com quem convivo estão conectadas pelo menos 10 horas do dia. Mas se a gente não souber o que quer na internet, ela vira um buraco negro de conteúdo inútil.

Nos tornamos uma geração que quer ter razão e relevância sobre a depilação da Nanda Costa. Uma geração cheia de informação fútil e rasa. Eu não estou julgando, me incluo tranquilamente nesse grupo, se eu não me policiar, nem vejo o dia passar apenas scrollando o facebook.

Nos ocupamos demais com coisas sem importância, e essas coisas (ou pessoas) estão se tornando nossos ídolos.

E a palestra do TED também me fez pensar sobre o atual significado da palavra artista. Jogador de futebol é artista, participante do Big Brother é artista, a Luiza do Canadá é artista.

Artista é quem se destaca na TV ou na internet, por um motivo qualquer, e ganha muito dinheiro com isso.

Fico com pena daqueles que passaram anos pintando uma tela, compondo uma sinfonia, escrevendo um livro, e que muito provavelmente só tiveram algum reconhecimento depois de mortos. Ah… se eles soubessem que seria tão fácil atingir a fama.

Fama momentânea, pode até ser, mas não deixamos mais marcas na história. E eu atribuo isso a não pensarmos nos outros como indivíduos, só pensamos como público, como uma massa que é necessário conquistar para atingir o objetivo.

Os artistas jogam “seu trabalho” no público como se implorassem “me idolatrem”. Os empresários, buscando cada vez mais formas para que a arte seja um produto comercializável. E nós estamos condicionados a isso e engolimos cada vez mais arte sem qualidade. Pagamos para ver um trabalho que foi desenvolvido sem a nossa opinião.

E é isso que Amanda Palmer põe em cheque em seu discurso.

Ela discorre sobre a Arte de Pedir, explicando como ela e sua banda conseguem se manter, pedindo, usando financiamento do público por crowdfunding. E pedir não se trata de mendigar para que alguém te veja, te escute, seja seu fã. Trata-se de conexão, de olhar o público e enxerga-lo, fazê-lo entender que ele pode ajudar na realização de um trabalho, e fazer parte dele.

É a forma mais honesta de deixar alguém dizer “eu admiro seu trabalho e sua arte, por favor, continue produzindo”.

Para finalizar, você pode assistir a palestra completa.

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