A corrupção dos clássicos e o remake de Harry Potter

Dias atrás estava passando Bater ou Correr em Londres na TV, quando de repente (!) aparece Sherlock Holmes na tela, é, em um filme do Jackie Chan. Acho que vi esse filme há muito tempo e não me lembrava da aparição desse personagem, e fiquei encasquetada com o abuso que o pobre Sherlock sofre nas mãos de escritores e roteiristas pelo mundo.

Será que Arthur Conan Doyle, antes mesmo de ser Sir, sabia que estava criando um personagem tão icônico que poderia simplesmente dar as caras em outras obras sem nem precisar de uma introdução?

Na imagem abaixo, os mais recentes Sherlocks(de muitos). O fanfarrão dos filmes estrelados por Downey Jr., que descobre tudo quase que por acidente. Na série Dr. House, se você ainda não sabe, o personagem principal foi inspirado no famoso detetive, eles compartilham uma lista de características, como o vício, a música, e claro, um fiel escudeiro. E as duas séries atualmente em exibição, que trazem os personagens para os dias atuais, a aclamada Sherlock, já na 3ª temporada, e Elementary, o mais moderninho de todos, onde o papel de Watson é interpretado por Lucy Liu.

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Se essas adaptações, inspirações, homenagens… fossem exclusividade do detetive mais querido de todos os tempos, até daria pra perdoar. Contudo, os contos de fada e outros clássicos têm sido uma fonte quase inesgotável onde os produtores de cinema e TV vêm bebendo nos últimos anos.

Não vou negar a genialidade de alguns deles, usar uma simples história, que está gravada no imaginário de gerações e criar um novo conceito, não é tarefa para qualquer um.

A lista de adaptações é extensa e não dá pra dizer que é absoluta, assim como House, que pega características de um personagem épico e o transporta para um cenário completamente diferente, fica difícil dizer se certos personagens não foram também construídos a partir de outros.

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Os contos de fadas mais conhecidos já não são originais, são versões abrandadas e maquiadas, mas são as histórias contadas para crianças dormirem e ao mesmo tempo dar pequenos conselhos e lições de vida, histórias que nos unem numa consciência coletiva.

É preocupante pensar que daqui alguns anos as crianças imaginem que João e Maria são apenas mercenários caçadores de bruxas (o que é muito mais legal, confesso), ao invés de saber do começo da história e que é de extrema importância não entrar na casa de estranhos.

Não vou nem comentar sobre Once Upon A Time, que é fofa e viciante, mas se olhar por este ângulo, é loucura e bagunça demais em uma única série.

E a zuera não acaba por aí, os mashups entre clássicos da literatura e criaturas fantásticas viraram modinha. Títulos como Orgulho e Preconceito e Zumbis e Dom Casmurro e os Discos Voadores são exemplos das mutações que estão brotando nas livrarias.

[Pausa para os autores se revirarem nos túmulos.]

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Essa irreverencia deve ser um atrativo para a molecada que sofre com a obrigatoriedade dos clássicos nas aulas de literatura, que tenta induzir um grupo que lê pouco ou nada a compreender obras que precisam de análise cuidadosa.

Sem colocar em discussão a qualidade dos mashups, afinal não li nenhum, fico imaginando se viverei o suficiente para ver adolescentes se divertindo com estes títulos, mas dessa vez porque estarão na lista do vestibular.

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Tá, mas o que Harry Potter tem a ver com esse papo?

É a falta de originalidade que me preocupa. A enxurrada de adaptações literárias nos cinemas, a quantidade absurda de remakes, fica cada vez mais raro assistir um filme com roteiro original.

E como fã, logo pensei que não vai demorar muito, com a tecnologia cinematográfica avançando exponencialmente, para que os filmes da série Harry Potter estejam ultrapassados.

Já posso até ver as notícias:

“Emma Watson diz que só participará da nova versão de Harry Potter no papel de Bellatrix Lestrange.”

“Daniel Radcliffe já filmou suas cenas de toda a saga, suas aparições serão somente em fotos e memórias, agora ele é Tiago Potter.”

“É oficial, Rupert Grint está fora, resta agora torcer por uma participação especial surpresa.”

“Veja quem é quem na nova versão!”

“Em memória de Michael Gambon, eterno Dumbledore, seu retrato permanecerá na sala do diretor de Hogwarts.”

Que tristeza amigos… que tristeza.