Dragões de Éter: Caçadores de Bruxas, de Raphael Draccon

Por Denise Ferreira

Tenho que confessar que comprei a trilogia por dois motivos.

1. Estava em promoção.
2. Achei a capa linda.

Ok, agora eu tenho que me explicar um pouco já que é minha primeira resenha.
Eu sou uma viciada em comprar livros e não agüento uma promoção, já fico logo imaginando como vai ficar na estante, e que agora eu posso ter muitos livros na lista, mas um dia eu posso estar na “seca”, e vai ser útil ter um pequeno estoque.
E sim, eu compro livro pela capa também. Já me ferrei por isso? Com toda certeza! Mas já me surpreendi também, e encontrei tesouros que valiam bem mais do que a capa elaborada.

Mas é claro que já havia visto os livros do Draccon antes e pensado: “Olha que livro lindo, mas livro sobre dragão, deixa pra uma próxima…”. Um pequeno pré-conceito totalmente perdoável, rs.

E foi com o sentimento de “vamos ver no que vai dar” que eu comecei a ler Dragões de Éter: Caçadores de Bruxas.

E foi com a primeira frase do capítulo 01 que ele ganhou meu coração, e eu mergulhei no livro. Por que eu simplesmente amo Contos de Fadas, e todas as suas adaptações, e todas as suas transgressões e todas as suas referências. Eu adoro a forma como é possível moldá-los e transformá-los em histórias para adultos, e histórias macabras, e também imaginar como surgiram e todas as modificações e censuras que sofreram até chegar no modelo Disney que a maioria de nós conhecemos hoje.

A livro tem como pontos principais a jovem Ariane Narin, personagem conhecida por todos nós como Chapeuzinho Vermelho, e os irmãos João e Maria Hanson, que você já deve ter percebido quem são. Eles se veem no meio de uma aventura quando a cidade de Andreanne é misteriosamente atacada por piratas(e dos famosos!), e de simples plebeus passam a ajudar nobres e até mesmo o Rei a entender e solucionar a situação.

É a história depois do FIM. O que acontece com uma menina quase devorada por um lobo? Por que ela estava sozinha na floresta? E por diabos a vovó foi morar no meio do nada?

Não me dá vontade de contar muita coisa sobre a história, pra mim as melhores partes foram as descobertas, aquele centésimo de segundo quem que você associa o personagem que acabou de aparecer ao velho conhecido de infância. Ver que a Branca Coração-de-Neve, é muito mais que uma princesa indefesa, que o sapo precisa ser de um pouco mais do que um beijo, e que os Sete Anões podem ser bravos Mestres guerreiros.

É um prato cheio para os fãs de fantasia, cheio de figuras clássicas, e para minha felicidade, nenhum dragão(!).
É delicioso de ler, divertido, mas não é bobinho, não tem final feliz pra sempre, e com certeza te faz pensar em como a maldade brota nos corações das pessoas pelos mais diversos motivos, e se instala lá por que muitas vezes ninguém consegue tirar a tempo.

A forma de escrever do Draccon também me encantou, principalmente por sua simplicidade e despretenciosidade. O narrador está sempre presente, de uma forma leve e agradável, como um amigo contando um “causo” no bar, um bardo dos tempos modernos como já avisa o editor logo no prefácio.
Mais ou menos na metade do livro ele me fez lembrar do querido Terry Pratchett, ele te conduz pela história, te faz esquecer como você chegou até ali, a coisa vai fluindo e de repente, faz uma piada e te pega na curva desprevenido, te faz parar e “Opa! Tem mais alguma coisa ali! O que foi que eu perdi?”.

As referencias da cultura pop são maravilhosas também. O príncipe Axel, a estrela Cobain(que se apaga sem explicação no auge do brilho) e até um troll chamado Moonwarkson.

Draccon criou um mundo de uma forma natural e leve, sem impor regras, sem querer dar todas as explicações, sem forçar o leitor a decorar nada. Em Nova Ether tudo pode acontecer, o passado e o presente não tem muita importância, e nem precisa de uma lógica de evolução. É simplesmente mágico!